sábado, 9 de agosto de 2008

PENSE SOBRE ISTO


A Última Viagem

Era tarde da noite, quando o taxista recebeu o chamado. Dirigiu-se para
a rua e número indicados.

Tratava-se de um prédio simples, com uma única luz acesa no andar
térreo.

Ele pensou, logo, em buzinar e aguardar. Mas também pensou que alguém
que chamasse o táxi, tão tarde, poderia estar com alguma dificuldade.

Por isso, saiu do carro, foi até a porta e tocou a campainha. Ele ouviu
som como de algo se arrastando, uma voz débil dizer:

"Estou indo. Um momento, por favor."

ma senhora idosa, pequena, franzina, com um vestido estampado, abriu a
porta.

Equilibrava-se em uma bengala, e, na outra mão, trazia uma pequena
valise.

Ele olhou para dentro e percebeu que todos os móveis estavam cobertos
com lençóis.

"Pode me ajudar com a mala?" Disse a senhora.

Ele apanhou a mala e ajudou a passageira a entrar no táxi. Ela forneceu
o endereço e pediu: "Podemos ir pelo centro da cidade?"

"Mas o caminho que a senhora sugere é o mais longo", observou o
taxista.

"Não tem importância", afirmou ela, resoluta. "Não tenho pressa. Desejo
olhar a cidade, pela última vez.

Estou indo para um asilo, porque não tenho mais família e o médico me
disse que morrerei breve."

O taxista, que começara a dar partida, desligou o taxímetro,
sutilmente. Olhou para trás, fixou-a nos olhos e perguntou: "Aonde mesmo a
senhora gostaria de ir?"

E ele a levou até um prédio, na área central da cidade. Ela mostrou o
edifício onde fora ascensorista, quando era ainda mocinha.

Depois, foram a um bairro onde ela morou, recém-casada, com seu marido.
Apontou, mais adiante, o clube onde dançou, com seu amor, muitas vezes.

De vez em quando, ela pedia que ele fosse mais devagar ou parasse em
frente a algum edifício.

Parecia olhar na escuridão, no vazio. Suspirava e olhava.

Assim, as horas passaram e ela manifestou cansaço: "Por favor, agora
estou pronta. Vamos para o asilo."

Era uma casa cercada de arvoredo e, apesar do horário, ela foi
recepcionada, de forma cordial por dois atendentes.

Logo mais, já numa cadeira de rodas, ela se despediu do taxista.

"Quanto lhe devo?"

"Nada", disse ele. "É uma cortesia."

"Você tem que ganhar a vida, meu rapaz!"

"Há outros passageiros", respondeu ele.

E, sensibilizado, inclinou-se e a envolveu em um abraço afetuoso. Ela
retribuiu com um beijo e palavras de gratidão: "Você deu a esta
velhinha um grande presente. Deus o abençoe."

Naquela madrugada, o taxista resolveu não mais trabalhar. Ficou a
cismar: "E se tivesse, como muitos, apenas tocado a buzina duas ou três
vezes e ido embora?

E se tivesse recusado a corrida, pelo adiantado da hora?

E se tivesse querido encerrar o turno, de forma apressada, para ir para
casa?"

Deu-se conta da riqueza que é ser gentil, dedicar-se a alguém.

Dois dias depois, retornou à casa de repouso. Desejava saber como
estava a sua passageira.

Ela havia morrido, na noite anterior.

...........................

Por vezes pensamos que grandes momentos são motivados por grandes
feitos. Contudo, existem coisas mínimas que representam muito para uma
vida. O importante é estar atento, a fim de não perder essas ricas
oportunidades de dar felicidade a alguém.
Mesmo que seja um simples passeio pela cidade, uma ida ao cinema, um
volta pelo jardim, um bate-papo num final de tarde, atender um
telefonema na calada da noite.

Pense nisso! E esteja atento para as coisas mínimas, simples, os
gestos que pareçam pra vc quase insignificantes, pois para o outro
pode ser os mais valiosos...

Nenhum comentário: